quarta-feira, 26 de agosto de 2009

É preciso saber viver

Por Bruno Montarroyos

Ó Pai, perdoa-me por todos os prazeres que me neguei viver só pelo medo do que poderiam pensar ou falar de mim. Por não dar ouvidos às capacidades racionais que me deste quando por tantas vezes me trouxeram conclusões diferentes dos pacotes prontos de exigências morais impostas por uma herança social duvidosa. Pequei! Tu que criastes esse gigantesco parque de diversões que é a vida. Criastes com tanto carinho cada detalhe. Imaginando os teus pequenos filhos transbordando de prazer nesse imenso paraíso lúdico. Antevendo-os a se lambuzar de prazer em cada um desses maravilhosos brinquedos encantados. E que em algum momento, sentado em um lugar elevado com vista privilegiada sobre esse incrível empreendimento, espera ansioso para observar as reações dos pequenos desde o primeiro contato com esse mundo mágico. Esperaste ansiosamente por esse momento em que poderia experimentar os mais intensos prazeres ao assistir os teus pequenos se entregando totalmente aquele universo propiciador das melhores sensações possíveis. Perdoa-nos! Como explicar? Chegamos aqui e o que fizemos? Apontamos para o primeiro brinquedo e dissemos: Esse não! E criamos leis severas que punissem com rigor qualquer um que se aproximasse. E fomos dessa forma cercando um por um daqueles brinquedos com que nos presenteastes. E ainda ousamos dizer que somos teus adoradores. Como? Se a adoração que querias de nós era exatamente o prazer de nos ver felizes com todos os presentes que nos destes. Como te daremos prazer se no lugar de valorizá-los a cada um, proibimos-lhes a todos o uso. Enganamo-nos achando que tantas proibições te agradariam. Perdoa-nos! Perdoa-me! Prometo esforçar-me para pular as correntes repressoras que me separam desses presentes, desses dons. Arriscar-me a experimentá-los apesar de qualquer olhar contrário. Não quero machucar ninguém, mas não tenho o que fazer se alguém resolver de própria vontade se sentir machucado por não concordar comigo. Resta-me o desafio de não me importar tanto com o que pensam ou falam de mim. Um dia chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço sem ter visto a vida. E nos arrasta a todos. A mim e aos que falam mal de mim. A mim e aos que pensam mal de mim. Só não quero chegar perto do final e descobrir que nem cheguei a começar.

Um comentário:

  1. É incrível como nos ensinam um Deus carrasco, rsrs, mas como é bom compreender que Ele é Graça e Amor que liberta, e quer nos dar vida abundante, cheia de prazer e intensidade! Muito bom texto, estou de acordo com cada palavra! :)

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